Os desafios da profissão Maquiadora
Desde cedo é imposto ao jovem a escolha da carreira que quer seguir para a vida. Escolha muito difícil para algumas pessoas que ainda estão entrando na fase adulta, cheios de incertezas e às vezes, por pressão da vida escolar e familiar, acabam escolhendo algo que não corresponde a sua verdade vocação. Numa pesquisa feita apenas no Rio de Janeiro, o índice de insatisfação no trabalho está em cerca de 70%, devido a pressão para escolher uma profissão. A infelicidade vem também do medo do jovem seguir uma carreira fora do “padrão”, isto é, uma carreira não convencional como medicina, direito e engenharia.
Pesquisa feita com 27 pessoas entre 20 e 30 anos |
A maquiadora Marina Santos, de 29 anos, é graduada e pós-graduada em Direito pela PUC-Rio e conta como foi a experiência acadêmica – Eu desde nova sofria pressão da minha avó pra seguir uma carreira onde eu pudesse fazer um concurso público ou algo do tipo, nunca tive nem tempo de pensar ‘mas o que eu realmente gosto?’ ou ‘eu tenho talento pra fazer o que?’. Assim eu entrei na faculdade de direito, por livre e espontânea pressão, mas não posso culpar somente a minha família, eu tive uma parcela de culpa porque não me permitir fazer essa escolha.
Para Marina, não foi fácil largar a carreira de advogada para investir na maquiagem, apesar de ter vivido momentos difíceis devido a crise que o país vem enfrentando. – Hoje eu vejo que a melhor coisa foi ter largado o direito, os escritórios estavam sempre reduzindo as equipes. Hoje eu sou minha própria chefe e não vou dizer que é fácil, sou autônoma, trabalho com clientes, divulgação do meu trabalho no instagram, mas não é sempre um dinheiro certo no final do mês. Já faz mais de três anos que decidir seguir essa paixão que eu tenho pela maquiagem, mas muita gente não vê isso como emprego, é muito chato, porém é um preconceito que nós maquiadores estamos tentando quebrar.
Paula Rodrigues, de 24 anos também abdicou da sua primeira formação para seguir o sonho de trabalhar com a maquiagem. Formada em Publicidade pela ESPM, Paula chegou a trabalhar como em algumas agencias, mas nunca estava satisfeita. Ela, desde nova, sempre gosto de assistir tutoriais de maquiagem no YouTube, contou: “Entrei nesse mundo meio que por acaso, sempre me interessei muito, gostava de assistir vídeos e aprender sozinha, mas não imaginava que poderia se tornar minha profissão”. Paula começou em 2016 quando resolveu criar um perfil no instragam em paralelo ainda como publicitária. Além de algumas amigas, a principal modelo dela, foi a irmã Luiza, que deu total apoio e ajudou a impulsionar esse sonho.
O preconceito com a profissão é o maior dos problemas, tanto para Marina, quanto para Paula, que contou o quão desgastante é ouvir críticas disfarçadas em perguntas. – ‘Mas então, o que você faz?’ Quando alguém faz essa pergunta numa roda de amigos, normalmente a resposta que recebe é breve, rápida, falam um pouco sobre o dia a dia no escritório, estágio ou na faculdade e a conversa segue. Agora, quando você diz que é maquiador não é dessa mesma maneira que o assunto se desenvolve. ‘Ah… faz maquiagem, legal, mas você trabalha?’ seguido sempre de um sorriso amarelado e sem graça. A constante repetição dessas frases faz com que nós, maquiadores, tenhamos que elaborar quase que uma resposta discursiva ditando todo nosso currículo quando estamos conhecendo pessoas novas. – disse Paula, que acrescentou dizendo quanto se gasta com produtos, cursos e as pessoas não valorizam e que além disso, essa é uma profissão delicada, pois a área da beleza é um campo perigoso por lidar com a auto estima das pessoas.
– Muito mais do que passar um blush em alguém ou fazer uma trança, muito mais do que uma futilidade superficial, trabalhar como profissional de beleza é uma tarefa muito difícil, cansativa, desafiadora e que requer extrema disciplina e responsabilidades. Se engana quem imagina que é fácil. Todos os dias, estamos lidando com a autoestima de pessoas que, muitas vezes, não conhecemos e contratam nossos serviços somente em ocasiões marcantes da vida dela. Trabalhamos literalmente para deixar alguém que não conhecemos mais feliz e realizado, quer tarefa mais nobre que essa? – e finaliza dizendo que apesar dos desafios, pressões e obstáculos que surgem pelo caminho, ela é muito grata e realizada por ter encontrado uma profissão que a deixa feliz.
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